domingo, 4 de março de 2012

Aqui tá pior. Bem pior.

                                                         Philco Hitachi doada por Izabel M.D.Rodrigues. 
                                                             Adquirida em maio de 1982

Recebi aqui nos estúdios do blog uma carta registrada, proveniente de Uruguaiana.  Cita o livro “As boas mulheres da China”. Li. Recomendo para leitura. De conteúdo forte,  nos levará a reflexões interessantes, muito embora vivamos em outra realidade. Os tempos são outros. Talvez  ainda não na China.
Importante considerar que o texto deste causo, inspirado no livro, proveniente de um gaúcho, uruguaianense, carrega consigo alguma dose de machismo através do linguajar,  retratando características da região fronteira oeste do estado. Que poderia ser também de Minas. Da Bahia. De... e por aí afora. Só muda o palavreado.
“Antiquário. Isso aí é nome! É?!
Que coisa o que aconteceu com teu amigo, hein! Elas estão assim aí em Passo Fundo, é? Mas aqui tá pior. Bem pior. Pelo que vi, aí foi um radinho que atiraram. Eu sei, sei, de 1953. Tá bem. É grave também. Lembra do Menezão? Fez a mesma coisa. Foi fazer uma serenata de desagravo, para inticar a mulher, com violão e banquinho, e cantar. Escolheu a música, até que bem bonitinha; Minha éguinha pocotó. Puta rapaz!  Atiraram uma televisãosona, daquelas antigas, lindas, não se compra mais. Digo atiraram porque a mãe da dismilinguida ajudou.  Jararaca. Tinha que ser de duas.  Era pesadona. Era. A véia é forte. Tão de quadrilha! Ah tão!
Tche, o Menezão pegou o cavalo, um tubiano, e desceu a Duque a galope, levantando poeira. Foi parar lá em Touro Passo. Lindo de vê! Não queria vir mais pro povo. O Nairo foi buscá-lo de charrete.
Elas não tem dialogo. Queria ver se fosse lá na China se elas iriam fazer esses desaforos.
Aqui na cidade anda um livrito, fininho, mas não li. Não tem figura. Mas a gurizada da Faculdade me disse que trata do tratamento que as chinesas tinham. É de amargá rapaz. Barbaridade. O nome é “As boas mulheres da China”. Isso que eram boas, hein! Bah! Duma tal de Xinram. Vi o retratinho dela, olha! É bem ajeitadinha. Olhaaaaaa! Bonitona!
Bueno tche, pelo que os guris me disseram, comparando com a chinesada, aqui nos tratamo elas a pão de ló. Vida mansa.  Mas, carinho e rédea curta. Esta é a receita.
E assim mesmo reclamam de tudo. Jogá bocha, passando das duas da manhã já dá uma baita confusão. Tomá uma cachacinha com butiá, só escondido. Rinha de galo esquece. Usá a escova de dentes delas, nem pensar. E por aí vai. Tão criando asa. Tão pedindo uma garoa com vento!
Mas rapaz, aparece aqui.  Pode vir de combi. Despacito. Despacito. A carreteira ta boa. Vamos tomá um chimarrão, uma batida de Nescau com bergamota. Ou só proseá. Te prometo que não vamo passar pela Duque.
Temos que nos organizá. A situação está fugindo de nossas mãos.
Escute: http://www.youtube.com/watch?v=wQWKVtx2OVY 
Bueno, mas que elas são lindas são. E quando brabas então. Tu lembra quando....”
Vou encerrar por aqui. Vem chegando mais correspondência. O fax e o telex não param.
Para os uruguaianenses lá vai.. Negro da Gaita.



Autor: Miguel Guggiana
Ilustração: Maurício Zamprogna

2 comentários:

  1. Legal e bem criativo esses contos ,lindos de apressiá ...a tempos que ñ escuto um causo tão antigo e ao mesmo tempo tão atual...

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    1. Boa noite Jota Jota
      Na verdade eu vivi algumas coisas na infancia (fronteira com a Argentina), o que facilita a criacão de"causos". Espero que tenhas apreciado a música também.
      Obrigado pelo teu comentário.
      Miguel Guggiana

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