Adquirida em leilão – maio/2015.
Mário Borrea em plena ação em seu ''studio'' de restauração.
Quando a
vi atiradona em um canto não enxerguei somente
uma peça interessante: linda,
trabalhada, posuda, aristocrática, mas
algo mais. Não a vi vazia. Não quero mentir, Deus me livre disso, mas me
pareceu ocupada. Senti nela “ a presença
de seus passados usuários, em constante
e silenciosa miragem” como diz o
amigo Darlou D` Arisbo quando se refere
aos objetos antigos que colecionamos, e, dos quais não somos proprietários: “ Eu, apenas efêmero e fiel
depositário”. Pois é!
Poderia dizer
alguma coisa mais a respeito, mas a
escritora Tânia Du Bois se refere às cadeiras,
em crônica poética, de tal forma
primorosa que a compartilho, dando-me livrança da tarefa. Saboreiam-na e tenho certeza que nunca mais verão uma cadeira
como tão somente uma cadeira. E nunca vazia...
A CADEIRA
por Tânia Du Bois
A cadeira, com ela nasce um novo conceito.
Você já sentiu a sensação de uma cadeira estar olhando para você? Ou já se deu conta da importância da cadeira? Segundo Pedro Du Bois, “… a cadeira representa a segurança do passado no que lembra…”
Há muito anos, para conseguir o meu primeiro emprego, em uma escola, foi necessário fazer teste de artes cênicas, frente aos professores do colégio e a banca de avaliação. Eles chamavam o candidato e colocavam um objeto no palco. O candidato tinha de criar algo, na hora.
Há muito anos, para conseguir o meu primeiro emprego, em uma escola, foi necessário fazer teste de artes cênicas, frente aos professores do colégio e a banca de avaliação. Eles chamavam o candidato e colocavam um objeto no palco. O candidato tinha de criar algo, na hora.
Para mim, foi uma única cadeira, naquele imenso palco. As pessoas esperavam “luz, câmera, ação”, mas ouviram minutos de silêncio. E nesse exato momento tive a dimensão da importância de uma cadeira, mas, lá estava a cadeira e eu – o destaque do momento -, e aquela platéia esperando o “show”. Bem colocou Cid Corman, “… me dá vontade de gritar / olha a gente aqui! – mas / percebo que // Sabemos cada qual / no seu próprio silêncio / quanto cada qual sabe.”
Assim, tive a sensação de que a cadeira estava me olhando, pude sentir a sua presença e o objeto falar comigo. Ela e eu soubemos conquistar os nossos espaços. Ela chegou para ficar e eu consegui o trabalho. Como escreveu Ferreira Gullar: “… a cadeira não é tão seca / e lúcida, como / o coração.” Nosso encontro fez a diferença, ela contribuiu para alcançar o meu objetivo, porque atraiu a atenção de todos. Nas palavras de Nicolau Saião: “… cadeira: imóvel / vivo / e fixo / figura incomparável que se estende //… – um monstro mudo… a olhar-nos.”
Coloco a cadeira como ponto chave. Ela, com sua “autonomia”, me fez acreditar nas mudanças e na necessidade de implementá-la com visão clara dos fins; a cadeira demonstrou a existência da alternativa: criar para vencer, como em Mário Quintana: “tenho uma cadeira de espaldar alto //… levemente balanço entre uma e outra vaga de sono.”
O poeta Salete Aguiar, em seu livro Na cadeira de meu pai, reflete na poesia a passagem de questões envolventes em cada motivo, trazendo para perto do leitor as histórias do coração. “Na cadeira do meu pai estou sentado, / mas filhos não querem colo, / querem asas…”
Hoje, me encontro em momento especial, sentada na cadeira de balanço da bisavó, enquanto olho o mar, balanço as ideias e repasso as situações vivenciadas, diferentes entre si, onde encontro a razão da diferença em minha vida, como reflete Eduardo Barbosa, “Sua varanda tem sombra / cadeira de balanço branca / uma bela vista do jardim / Bichano carente, livros e paz…”
Hoje, me encontro em momento especial, sentada na cadeira de balanço da bisavó, enquanto olho o mar, balanço as ideias e repasso as situações vivenciadas, diferentes entre si, onde encontro a razão da diferença em minha vida, como reflete Eduardo Barbosa, “Sua varanda tem sombra / cadeira de balanço branca / uma bela vista do jardim / Bichano carente, livros e paz…”